Na sequência do internamento no dia 29/12, passei uma manhã a tentar orientar-me no hospital. As rotinas todas foram para mim uma completa novidade e adaptar-me a elas ainda durou um bocadinho. Assim, fizeram-me a primeira indução eram 13 horas e 30 minutos do dia 30 de Dezembro. Isso implicou toque para ver que não havia nenhuma dilatação, e a inserção de um comprimido qualquer, seguido de duas horas ligada ao CTG à espera de novidades que não apareceram. Para mim o pior de tudo isto foi de facto o CTG, duas horas em que mal me podia mexer. Ainda andava por lá uma enfermeira a implicar comigo, que eu não estava a ajudar o sistema. É que eu não sabia que tinha de ajudar o sistema, eu só queria ter o meu filho. Foi assim que a primeira indução não deu em nada.
Lá se passou mais um dia e uma noite mal dormida, porque é impossível dormir no hospital. No dia a seguir, dia 31, à mesma hora, novo toque, nova indução. A médica disse-me que devia ter sentido algumas moinhas, porque o colo estava completamente apagado, e ela tratou de fazer o toque “berbequim”, isto é, o descolamento de membranas, que eu estava à espera que doesse muito mais. Mais duas horas de CTG e aí comecei a sentir algo de diferente, ainda que eu não consiga descrever o quê. Após estas duas horas tive novamente a visita da médica que achou que à terceira é que era de vez e vai de fazer nova indução. Isto eram umas cinco da tarde de dia 31, véspera de Ano Novo, em que o hospital andava numa roda viva para ir para os festejos. Comigo foram estando os auxiliares e enfermeiros que estavam de serviço essa noite, e a brincadeira era que o meu bebé ia ser o primeiro do ano. Tenho de referir que foram todos extraordinários, incluindo o pessoal da cozinha que também ia ver como é que as coisas iam andando comigo. A cara metade esteve sempre presente e andava curioso se o deixavam ou não passar a meia-noite comigo. Até levou bolo-rei. Mal sabia a noite que ambos íamos ter.
Após a terceira indução a coisa começou a andar mais depressa. A partir das seis da tarde comecei a ter dores mais forte, sem que fossem muito dolorosas, e após o CTG comecei a andar pelos corredores do hospital, sempre acompanhada pela cara metade que se foi deixando ficar até às nove horas. A essa hora o enfermeiro que estava de serviço decidiu que eram horas de avaliar a situação. Estava tudo muito animado, e o enfermeiro que é da MAC, até brincava que a mulher é que não gostava nada que ele tive no serviço que estava, mas ele gostava imenso do seu trabalho. Com isto eu estava com 3 / 4 dedos de dilatação, por isso foi colocar o soro, e preparar para o bloco de partos. Estavam umas seis pessoas no quarto comigo todas a desejar que fosse mesmo o primeiro bebé do ano e a animação era geral.
Lá desci para o bloco sempre com a cara metade atrás de mim. Até os maqueiros foram extraordinários, sempre a dar apoio e a desejar que fosse o primeiro do ano.
Lá em baixo é que as coisas começaram a correr menos bem. As horas passavam e a dilatação não aumentava. Eram 11 e meia quando a médica me foi ver e como a coisa não andava resolveu rebentar-me a bolsa. Estava à espera que doesse mais, mas na verdade estive o tempo todo à espera que tudo doesse mais. As dores aumentavam e não havia respiração que ajudasse, mas verdade seja dita a única coisa que me ajudava era dizer “ai, ai, ai” de forma ritmada LOL. A respiração não ajudava nada. A presença da cara metade também foi uma ajuda muito grande.
A enfermeira H., que foi a minha grande fonte de apoio durante todo o processo, passou por lá e perguntou-me se eu ainda pensava ter outro, e eu disse que sim. Saiu de lá a rir-se que “Esta mulher não existe, porque as outras passam por aqui a dizer que nunca mais, e esta a meio ainda fala em ter outro.” Sei que a meia noite do dia 31 de Dezembro será sempre inesquecível. Estava eu a contorcer-me com dores e ouvia numa sala ao lado todo o pessoal do hospital “8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1……..” Barulho de festejos. Nesta altura tive a noção clara que não ia aparecer nenhum anestesista durante muito tempo, e que a epidural ia demorar. Perguntava as horas de 10 em 10 minutos à cara metade, e sabia que ainda tinha de esperar mais. O pessoal estava a festejar o Ano Novo.
Era uma da manhã quando me foram avaliar novamente. A cara metade saiu e entraram duas médicas. Estranhei as duas. Mais dois toques de enfiada e a meio das contracções que custam assim um bocadinho. A primeira médica, que me tinha vindo a acompanhar, era da opinião que se devia esperar porque continuava com três dedos de dilatação, mas o bebé era pequeno e eu tinha uma boa bacia. A outra médica foi da opinião que a coisa não ia avançar mais nada (foi a minha salvação!!!), e então acabaram por concluir que o bebé estava já em sofrimento (o que a cara metade já sabia por estar a acompanhar o CTG) e o melhor era esquecer a epidural e seguir imediatamente para cesariana. Saíram os médicos entrou a enfermeira que me preparou para a cesariana, e depois para sair dali para a sala de “corte e costura” não aparecia nenhuma auxiliar, então a mulher resolveu levar-me sozinha, e lá foi a cama a bater contra as paredes. Na sala estava já a enfermeira H. que continuava na brincadeira comigo, um anestesista, e não vi mais ninguém, mas andavam por lá. Levei epidural e assim que entrou fiquei logo bem disposta e a rir-me. A enfermeira H. tirou-me uma fotografia e foi mostrar à cara metade que eu já estava muito feliz.
Depois foi corte e ver o meu menino ser entregue à enfermeira H. que o lavou, era 1 hora e 29 minutos. Disse-me que já cá estava o Pedro, agora só faltava a Inês, ao que eu respondi que por mim podia ser. O Pedro vinha todo inchado, a carinha dele era só lábios, nariz e olhinhos, mas quando a enfermeira mo trouxe para eu o ver e o encostou à minha cara, eu sabia que ia reconhecer aquele cheiro em qualquer lugar. Depois levaram-no. Trataram de mim, e lá fui para duas horas na sala de recobro, onde me entretive a perceber que partes do meu corpo sentia e quais não sentia. Uma perna funcionava, mas a outra não. A cara metade foi autorizada a ir ver-me ao recobro, graças à enfermeira H. e disse-me que o Pedro tinha biquinho como ele (no lábio superior), e depois teve de ir embora. Eram 4 da manhã. Quando me levaram para a enfermaria, Cuidados Intermédio, cama 16, pedi para me levarem o meu filho. Uma enfermeira espanhola trouxe-o e colocou-mo no braço. A primeira coisa que fiz foi cheirá-lo, e lá estava aquele cheiro doce que tinha sentido pela primeira vez há duas ou três horas atrás. Ainda no escuro apalpei-lhe os pezinhos e as mãozinhas: cinco dedos neste pé, cinco dedos no outro. Cinco dedos nesta mão, e mais cinco na outra. E adormeci com ele encostado a mim.
O pós-parto é que foi mais complicado.
Obrigada a quem teve a paciência de ler isto tudo.
8 comentários:
Confesso que cheguei ao fim a engolir em seco.
Eu ando muito ansiosa, já sonho com o parto e tudo.. ai quando o dia chegar vou estar cheia de medo :)
bjs e felicidades ( aguardamos pelo menos uma foto do teu principe Pedro)
Oh Carla, no meio de tanto sofrimento tens aqui uma bela história para recordar!
Eu arrepiei-me. Sabes que também fui logo contar os dedos da Carolina.
Muitas beijocas.
Olha, e como estás de mama?
eu li tudinho.
Realmente foi complicado mas se querem mandar vir a inês é porque tudo compensa depois não é?
Isso de contar os deditos acontece a todas nós!!!!
Revivi um bocadinho o meu parto, ainda para mais, como foi no mesmo hospital, deu para eu visualizar tudo (as camas, os corredores).
Foste muito forte, a suportar as dores e a ouvir festejos ao lado! Só quem já passou por elas é que sabe bem o que custa!
Em relação ao teu comentário no meu post: estou convencida a fazer campanha para não nos sentirmos mais culpadas por "estragar" os nossos bebés com mimo! É que na verdade, eles não se "estragam". Apenas se sentem mais confortáveis... O Gonçalo também dorme sempre comigo. Até para amamentar é mais prático!
Bjs
Sofia & Gonçalo
Mais uma vez, muitas felicidades! Li todo o teu relato e confesso que fiquei um pouco impressionada, dada a proximidade da minha hora. :)
Ficamos a aguardar pela foto do Pedro ...
Pois olha somos quase da mesma opinião, as contracções doem, mas não tanto qt podíamos imaginar, não é?
O que importa é que correr tudo bem e tb tiveste a sorte de ter junto de ti boas equipas!
Agopra q venha a Inês, eu acho que me fico só pelo Gil... mas não é por medo do parto! ;)
Joquinhas gds!
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Aiii custou-me tanto a ler ... imagino o que deve ser essa ansiedade , essa impaciência , esses medicos todos à nossa volta , as batas brancas e nós sem sabermos o que nos vão fazer.
Rejubilo à tua coragem, eu tinha me dado um "trecozito" assim ao 3 toque ://
PARABÉNS, mais uma vez, és uma mulher cheia de coragem!
A descrição do cheiro parece-me a melhor parte do que viveste no último e no 1º dia do ano...
Muitas felicidades...
Beijocas nossas
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