09 abril, 2008

A Escola e a Educação

O texto chegou-me por mail. Espero que seja da pessoa que vem identificada como sendo a autora, que isto da net por vezes não é certo. É uma problemática que me assusta porque tenho um filho para educar, que estou a tentar educar, e espero que seja esta a melhor forma, ainda que tenha a certeza que cometo erros todos os dias, também todos os dias o tento corrigir. Fica como forma de reflexão:

A geração do ecrã

«Desculpem se trago hoje à baila a história da professora agredida pela aluna, numa escola do Porto, um caso de que já toda a gente falou, mas estive longe da civilização por uns dias e, diante de tudo o que agora vi e ouvi (sim, também vi o vídeo), palavra que a única
coisa que acho verdadeiramente espantosa é o espanto das pessoas.

Só quem não tem entrado numa escola nestes últimos anos, só quem não contacta com gente desta idade, só quem não anda nas ruas nem nos transportes públicos, só quem nunca viu os 'Morangos com açúcar', só quem tem andado completamente cego (e surdo) de todo é que pode ter ficado surpreendido.

Se isto fosse o caso isolado de uma aluna que tivesse ultrapassado todos os limites e agredido uma professora pelo mais fútil dos motivos - bem estaríamos nós! Haveria um culpado, haveria um castigo, e o caso arrumava-se.

Mas casos destes existem pelas escolas do país inteiro. (Só mesmo a sr.ª ministra - que não entra numa escola sem avisar - é que tem coragem de afirmar que não existe violência nas escolas).

Este caso só é mais importante do que outros porque apareceu em vídeo, e foi levado à televisão, e agora sim, agora sabemos finalmente que a violência existe!

O pior é que isto não tem apenas a ver com uma aluna, ou com uma professora, ou com uma escola, ou com um estrato social.

Isto tem a ver com qualquer coisa de muito mais profundo e muito mais assustador.

Isto tem a ver com a espécie de geração que estamos a criar.

Há anos que as nossas crianças não são educadas por pessoas. Há anos que as nossas crianças são educadas por ecrãs.

E o vidro não cria empatia. A empatia só se cria se, diante dos nossos olhos, tivermos outros olhos, se tivermos um rosto humano.

E por isso as nossas crianças crescem sem emoções, crescem frias por dentro, sem um olhar para os outros que as rodeiam.

Durante anos, foram criadas na ilusão de que tudo lhes era permitido.

Durante anos, foram criadas na ilusão de que a vida era uma longa avenida de prazer, sem regras, sem leis, e que nada, absolutamente nada, dava trabalho.

E durante anos os pais e os professores foram deixando que isto acontecesse.

A aluna que agrediu esta professora (e onde estavam as auxiliares-não-sei-de-quê, que dantes se chamavam contínuas, que não deram por aquela barulheira e nem sequer se lembraram de abrir a porta da sala para ver o que se passava?) é a mesma que empurra um velho no autocarro, ou o insulta com palavrões de carroceiro (que me perdoem os
carroceiros), ou espeta um gelado na cara de uma (outra) professora, e muitas outras coisas igualmente verdadeiras que se passam todos os dias.

A escola, hoje, serve para tudo menos para estudar.

A casa, hoje, serve para tudo menos para dar (as mínimas) noções de comportamento.

E eles vão continuando a viver, desumanizados, diante de um ecrã.

E nós deixamos.»

Alice Vieira, Escritora

7 comentários:

)0( disse...

Também me chegou este e-mail e esta questão também me preocupa enquanto mãe.
Mas não foi nenhum espanto para mim o que aconteceu porque vejo miúdos (e graúdos) mal educados nos transportes públicos todos os dias: eles empurram, eles põem os pés nos assentos, eles falam mal e falam alto.. e ninguém lhes pode dizer nada!! E agora nas escolas, para cúmulo, ainda se lembraram de inventar o "estatuto do aluno", seja lá o que isso for. Habituaram-se estes jovens a reivendicar direitos mas não se lhes deu deveres nem se lhes incutiu quaisquer responsabilidades. Criaram-se pequenos monstros.

Beijos

Rita Correia ilustradora disse...

Também não me surpreendi... infelismente. É mesmo esta a sociedade adolescente que predomina hoje em dia, salvando-se alguns bons exemplos aqui e ali. Penso principalmente nos pais destes miúdos e o porquê de não terem sido mais firmes quando deviam. Penso em como serei eu um dia, enquanto mãe de uma ou dois adolescentes. Penso em como lhes conseguirei incutir e embutir todos os valores que herdei dos meus pais... Penso... penso... penso...
Penso que teremos mesmo de ser nós a tentar marcar a diferença nos nossos filhos, e já hoje, para que daqui a 15 anos a marca dos valores mais importantes já lhes estejam tatuadas na alma.
xi coração

Anónimo disse...

Esta geração preocupa-me, sim. Penso muito também como será quando o meu filho crescer e em que mundo ele vai viver, nos comportamentos que vão sendo socialmente aceites e que ganham dimensões nunca vistas. Por que para além da questão do respeito pelo próximo ou da falta dele, é muito triste assistir-se à perda dos valores empáticos, da solidariedade, da amizade. Não sei se a culpa é do écran ou dos pais ou de tudo junto, mas sei que é urgente fazer alguma coisa.

Bala disse...

Só espero que estas, e outras situações, sirvam para abrir os olhos dos pais que se "escondem" atrás dos muitos ecrãs que temos em casa, e lhes mude a maneira de educar (se é que se pode chamar educar!).

Não somos diferentes, todas queremos educar os nosso filhos da melhor maneira possível.
Mas, educar dá trabalho, e hoje em dia, vive-se o "facilitismo", em muitos aspectos da nossa vida.

Acredito que cada vez mais, movimentos como os Escuteiros são fundamentais na educação dos nossos filhos. Porque lhes transmitem valores de grupo, de fraternidade, de trabalho em equipa e interajuda, que pouco ou nada existem nas escolas de hoje em dia.(Sim, sou escuteira)

Uuupppssss, desculpa....Estiquei-me!
Mas este assunto dava , de facto, pano para mangas.

Bjinhos

teresa disse...

Também eu me preocupo com a educação e não queria criar uma filha assim.
Tenho medo de não fazer um bom trabalho e no fim ver que não consegui transmitir os melhores valores, o respeito por todos.
Preocupações de mãe.
Beijos.
Teresa e Matilde.

Nany disse...

Dá mesmo muito em que pensar.
Será que conseguiremos transmitir bons valores aos nosso filhos, quando eles estão rodeados por situações destas? Será que os educamos da melhor forma?
E o tempo, esse tempo que nos é roubado pois temos de trabalhar aos 4/5 meses? O tempo que estamos no trabalho? O tempo que temos para fazer tudo pois senão sentimo-nos menores? E depois, quais as consequências?
Pois é dá mesmo muito em que pensar.
Bjks

Os Papás disse...

Muito se pode dizer ao analisar esta problemática mas, basicamente, penso que tudo se resume à capacidade de educação dos pais e à maneira como conseguem lidar com os assuntos que a criança vai trazendo para casa no seu dia-a-dia, algo que se afigura difícil e complicado, dada a falta de tempo de que dispomos nos dias que correm.

No entanto, como pais conscientes, que todos queremos ser, temos que nos consciencializar que há sacrifícios, diferentes daqueles que fazemos agora, enquanto as crias ainda são bebés, que temos que fazer num futuro próximo.

É verdade que a televisão e o vídeo são, em determinadas situações, uma ajuda preciosa que se pode tornar num poderoso inimigo.

No entanto, se houver um dosagem uniforme do que é o contacto com as televisões e o contacto humano, nomeadamente, com os pais, penso que a educação duma criança pode ser levada a bom porto, desde que encarada por pais e crianças como algo positivo, verdadeiro, justo e sem tabus.

Aqui em casa temos, desde já, um caso problemático no dia-a-dia da Joana que passa pelo comportamento da cria no colégio, especialmente à hora das refeições, influenciada pelos colegas, nomeadamente, pelo Simão Lambão, a quem já me referi, por diversas vezes, no nosso espaço familiar.

Dizem as educadoras que a Joana vai para cima da mesa, atira com a comida e faz trinta por uma linha, sempre em pareceria com outros coleguinhas.

A solução, ainda que seja algo cedo e, por isso, difícil, passa por incutir na cria que o que está certo é o que ela faz em casa, onde verificamos que tem um comportamento exemplar, e que o que está errado é seguir as pisadas dum coleguinha que não tem respeito por ninguém e que se assume como o rei mandão em todos os sítios por onde passa, inclusive, pelo que me apercebi, em casa.

Se esta solução vingar e provar ser a mais correcta, então será a base das linhas com que nos coseremos no futuro.

Caso contrário, a gerência familiar terá que estudar outras soluções…

Nota – Desculpa o comentário tão longo mas penso que se justifica

João Gonçalves – O Papá da Joaninha